Pesquisas realizadas por uma rede independente e global
de pesquisadores e profissionais de saúde, a Cochrane Collaboration revelaram
que o antiviral tamiflu não é capaz de reduzir a disseminação nem possíveis
complicações da doença, apenas alivia os sintomas da gripe. Assim, este
medicamento seria tão eficaz quanto o paracetamol, um analgésico popular. Porém
a empresa fabricante do tamiflu, Roche, e outros especialistas apontam falhas
no estudo realizado pela Cochrane Collaboration.

Durante a epidemia mundial da gripe suína, em 2009, o
antiviral foi receitado em larga escala por muitos países e por isso, alguns
governos fizeram grandes estoques desse medicamento. A Grã-Bretanha investiu
milhões de libras na compra de tamiflu, em 2006, quando foram alertados por
agências de saúde que previam uma pandemia de gripe que poderia matar milhares
de pessoas. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, foi adquirida
uma quantidade suficiente para aproximadamente 14 milhões de pessoas, cerca de
10% da população brasileira, visto que o tratamento era recomendado apenas para
os casos mais graves e pacientes com fatores de risco.
Dados:
Companhias
farmacêuticas não expõem todos a informações de suas pesquisas. Foi uma grande
dificuldade para conseguir a liberação de dados que não haviam sido divulgados
a respeito da eficácia e dos efeitos colaterais do tamiflu.
Segundo
informações, o medicamento reduziu a permanência dos sintomas da gripe de 7
dias para 6,3 dias em adultos, e para 5,8 dias em crianças. Porém autores
responsáveis pelo relatório feito após análises da Cochrane Collaboration
afirmam que medicamentos como o paracetamol poderiam ter um efeito semelhante.
O epidemiologista clínico e ex-clínico geral afirma que não indicaria o tamiflu
para o alívio dos sintomas e sim o paracetamol.
Há
também um questionamento dizendo que os testes de que o tamiflu evitava complicações
como o possível desenvolvimento da pneumonia, foram precários e que não foi
possível detectar um "efeito notório" neste sentido.
Um
dos argumentos usado para defender a estocagem do tamiflu foi de que o
medicamento diminuía a velocidade com que a doença se espalhava, dando tempo
aos cientistas para o desenvolvimento de uma vacina. Porém ainda não existe
comprovações de que este medicamento realmente evitam uma pandemia.
A
análise também mostrou que o tamiflu tem uma série de efeitos colaterais,
incluindo náuseas, dores de cabeça, eventos psiquiátricos, problemas renais e
hiperglicemia.
Carl
Heneghan, professor de medicina na Universidade de Oxford e um dos autores do
relatório, afirmou que o dinheiro investido no medicamento, não beneficiou a saúde
humana, podendo até ter prejudicado as pessoas.
Pesquisadores
da Cochrane Collaboration não culparam indivíduos ou organizações em particular
e afirmaram que ocorreram falhas em cada passo do processo, desde a fabricação,
passando por órgãos reguladores e chegando até o governo.
A
Roche e alguns especialistas discordam das conclusões da análise do grupo
Cochrane
A Roche alertou que a análise
pode implicar negativamente na saúde pública. E segundo o diretor médico Daniel
Thurley, da Roche na Grã-Bretanha, os resultados dos testes do medicamento
foram divulgados para os órgãos reguladores e além disso lembrou que 100 países
no mundo todo, fazem uso do tamiflu para tratamento e prevenção da gripe. De
acordo com ele, o grupo Cochrane usou estatísticas falsas que acabaram
diminuindo os benefícios do remédio e usaram métodos pouco rigorosos para analisar
os efeitos colaterais.
Wendy Barcley, pesquisador do
vírus da gripe no Imperial College de Londres, disse que reduzir os sintomas em
29 horas seria um grande benefício, principalmente em crianças.
O Departamento de Saúde da
Grã-Bretanha afirmou que o país é um dos mais preparados do mundo para uma
potencial pandemia de gripe e que o estoque de antivirais é importante nisso.
Eles analisaram todos os dados publicados e irão analisar o relatório Cochrane
detalhadamente.
Paralelamente, a Organização Mundial de Saúde, que classifica o tamiflu como medicamento essencial, disse que é a favor de uma nova e rigorosa análise dos dados disponíveis e que aguarda a análise e novas descobertas.