sábado, 28 de junho de 2014

Excesso de sal, açúcar e gorduras na alimentação

O  excesso de açúcar na preparação de bolos e doces aumenta muito o valor calórico da dieta, o que leva ao ganho de peso e, consequentemente, à diabetes. Estima-se que, por dia, a quantidade máxima de açúcar que pode ser consumida é 10% das calorias totais, o que equivale a 50 g em uma dieta de 2.000 calorias. Por isso, é fundamental prestar atenção nas alternativas que podem reduzir a quantidade de açúcar nas receitas. A dica principal é fazer substituições, por exemplo, utilizando adoçantes, polpa de frutas, frutas naturais ou até mesmo cacau. Além disso, existem alguns alimentos como achocolatados e sucos que já são doces e não necessitam de adição de açúcar ou alimentos que já têm açúcar em sua composição, como pães e refrigerantes, que devem ser consumidos com moderação.
Em relação ao excesso de sal, as consequências também podem ser sérias já que pode causar hipertensão, o que aumenta o risco de infarto, AVC e insuficiência renal. Se não controlada, a pressão alta pode ainda provocar cegueira, irregularidades nos batimentos cardíacos e insuficiência cardíaca. No entanto, o sal é importante porque as pessoas precisam de iodo no organismo, portanto, não é ideal cortá-lo absolutamente da alimentação.



A dica da nutricionista Cynthia Antonaccio é misturar no preparo dos alimentos sabores que podem simular o sal, como ervas, condimentos secos, geral, limão, manjericão e outras opções parecidas.Do mesmo jeito que o excesso de sal, o excesso de gordura e fritura também pode levar ao infarto porque entope as artérias do coração.
No entanto, nesse caso, é um pouco difícil abandonar esse hábito porque os brasileiros já estão acostumados, então a dica do endocrinologista Alfredo Halpern é reduzir o consumo de alimentos gordurosos e fritos para evitar essas consequências ruins para a saúde. Para diminuir os impactos desse excesso ao organismo, existem também algumas alternativas. A principal delas é optar por aquecimento no forno, que pode simular o efeito da fritura. Além disso, utilizar o óleo bem quente no preparo dos alimentos evita que eles fiquem encharcados e absorvam muito a gordura.












quinta-feira, 19 de junho de 2014

Como nos tornamos gordos?



Para a jornalista inglesa Felicity Lawrence, a indústria da alimentação transformou tanto a nossa comida que mal sabemos o que estamos ingerindo



A obesidade pode ter várias causas, como a predisposição genética, mas certamente a combinação entre a dieta industrializada e a queda na atividade física desempenha um enorme papel. Isso aconteceu sobretudo depois da 2ª Guerra Mundial, grandes companhias começaram a produzir comida barata e pouco nutritiva. Nessas décadas, os engenheiros de alimentos ficaram mais preocupados com o barateamento dos produtos e dos processos de produção que com a saúde dos consumidores. O que comemos hoje é resultado disso. Alimentos processados têm alto teor de energia, baixo valor nutricional e não produzem uma sensação de saciedade. Você come e, como não se sente satisfeito, vai para outra porção. Assim acaba ingerindo grande quantidade de caloria em pouco tempo.



O que provocou essa transformação na nossa forma de comer?
A correria do trabalho contribuiu, pois não temos muito tempo para fazer nossa própria comida. Mas talvez o fator mais importante seja o sistema adotado pela indústria de alimentos, que nos impede de saber como as comidas são produzidas. Quando vai a um supermercado, você encontra pedaços de carne, frango e porco, tudo empacotado, e não tem nenhuma idéia de onde vem tudo aquilo. Na verdade, comemos os mesmos ingredientes, mas achando que são alimentos diferentes. Nas últimas décadas, o jeito como consumimos gordura mudou drasticamente. Antes, sabíamos que estávamos ingerindo uma comida gordurosa. Hoje, a indústria de alimentos tornou a gordura algo invisível. Com o advento da gordura hidrogenada, um alimento novo que de repente apareceu em centenas de produtos, compramos alimentos sem saber o que eles realmente são. E quem decidiu isso não fomos nós, mas os custos, a facilidade de produção e até a política internacional.


Como assim?
O milho, por exemplo, está em quase um terço das comidas processadas no Reino Unido. A soja e seus derivados são usados em dois terços delas. Farelo de soja, proteína de soja, proteína vegetal hidrolisada, proteína texturizada de soja, óleo de soja e emulsificante lecitina de soja estão em barras de cereais, cornflakes, biscoitos, chocolates, sucos, salsichas, carnes processadas, margarinas, sorvetes, maioneses, queijos, massas de bolo e muitas outras comidas. O óleo de soja, um alimento que mal existia nos EUA no começo do século 20, é hoje responsável por 20% das calorias que os americanos ingerem. E isso vem de só 10% da soja do mundo, já que os outros 90% são usados como alimento em granjas. Também encontramos açúcar em suas várias formas (sacarose, oligofrutose, entre outras), farinha de arroz, óleo de milho, óleo de palma e diversos tipos de gorduras. Para a indústria da comida, essa é uma trilha ideal: começamos comendo papinha de bebê, passamos aos cereais empacotados e daí a comidas prontas. Ou seja, os mesmos ingredientes, só que em formas diversas.
Por que a indústria usa tanto grãos como soja?
Nos últimos 50 anos, os governos implantaram fortes subsídios a certos produtos agrícolas, como milho, soja e açúcar – as chamadas commodities. O resultado foi que elas puderam ser produzidas e vendidas no mercado global a preços baixos. Foi fácil parar de vender vegetais frescos e começar a vender grãos, açúcares e gorduras em produtos manufaturados baratos. Com a atual elevação do valor da soja, temos um problema, porque boa parte da comida processada depende dela.
A comida hoje provoca ansiedade ou prazer?
Ansiedade, e isso se deve, primeiro, porque nos desconectamos da forma como a comida é feita. Estamos muito confusos sobre o que é saudável e o que não é. Recebemos recomendações de todos os lados, muitas vezes determinadas por campanhas de marketing. Um dia temos que parar de comer gorduras saturadas, no outro gorduras trans, e assim por diante. A confusão é tanta que pedimos conselhos de empresas antes de comer, o que gera conseqüências desastrosas para a nossa saúde.
Quais?
O aumento do consumo de comida processada para bebês, por exemplo. Os pais preferem comprá-la porque já não confiam em si próprios. Acham que não podem fazer papinhas do jeito certo. Durante séculos, as pessoas compartilharam os pratos com os filhos, mas agora se submetem a instruções pseudocientíficas antes de decidir o que dar a eles. Também substituem leite materno por leite industrial. Os sabores do leite materno estimulam a bebê a buscar uma dieta variada de alimentos nos anos seguintes. Isso é fundamental para que ela desenvolva uma atitude saudável diante da comida. Do mesmo modo, a margarina já foi indicada como uma opção mais saudável que a manteiga. Hoje, acredita-se no contrário.



Qual o problema dos cereais que comemos no café-da-manhã?
São comidas tipicamente processadas. Quando o grão inteiro passa pelo sistema de processamento pesado, muitos de seus minerais e vitaminas são retirados – porque estragariam antes da venda – ou destruídos pelo calor. No final, as indústrias colocam de volta, para compensar, algumas vitaminas e minerais – que viram campanha de marketing do tipo “enriquecido com vitaminas”, “com ômega 3” ou “com ferro e cálcio”. Mas nada disso é comparável ao valor nutritivo que o grão inteiro tinha no início. Além do menor valor nutritivo, esse é um jeito muito caro de comer. Mais barato é comprar o grão inteiro e fazer o café-da-manhã com ele.
Essa alimentação também faz mal para o mundo?
É claro que esse sistema tem um custo social. De um lado, está a conseqüência para os consumidores – as taxas de obesidade aumentam em todo o mundo. De outro lado, está o interesse dos produtores. Para esse sistema funcionar, é preciso haver uma produção maciça de matéria-prima. Em diversos países, a zona rural virou um campo de produção para a indústria alimentícia. O Brasil é o melhor exemplo. Eu visitei a Amazônia e vi pessoalmente o que acontece. As áreas do sul da Amazônia que eram imensas florestas hoje são enormes plantações de soja.
De que forma?
Com um simples grão, elas podem ganhar certa quantidade de dinheiro. Mas podem ganhar mais quando “agregam valor”. Ou seja: usando esse grão para alimentar animais e vendê-los na forma de carne. E podem ganhar ainda mais se processam essa carne para vender comida pronta. Quanto mais agregam valor, mais tiram os nutrientes – e maiores são as suas margens de lucro.


Por outro lado, muitos afirmam que o sistema industrial foi essencial para alimentar as populações maiores nas últimas décadas. Não concorda?
Esse é um dos argumentos. Mas a pergunta é: esse sistema está alimentando bem as pessoas? Segundo diversas fontes, há 1 bilhão de pessoas com sobrepeso no mundo, e muitas sofrem doenças relacionadas com a má alimentação. Ao mesmo tempo, existem também 850 milhões de pessoas que ainda passam fome todos os dias. Parece que esse sistema não está alimentando bem o mundo, e sim concentrando os lucros nas mãos de poucos e a gordura no corpo de muitos.

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Mulher que fuma e toma pílula pode ter risco maior de ter um AVC

Entenda o AVC


O AVC, acidente vascular cerebral, comumente chamado de derrame cerebral, é o entupimento ou rompimento de vasos sanguíneos cerebrais. Os sintomas são: confusão mental, alteração de um lado do corpo, formigamento na face, braço ou perna e dor de cabeça súbita. Muitas vezes acontece por descuidos na prevenção, ou seja, fatores de risco envolvidos que aumentam a probabilidade de tê-lo. Fatores como: obesidade, sedentarismo, história de doença vascular prévia, idade e sexo. Esses fatores podem estar correlacionados como nos casos de mulheres que fumam e usam como métodos contraceptivos as pílulas anticoncepcionais.
A combinação do fumo e a pílula aumentam os danos e a probabilidade de ter-se um AVC. Sendo assim, ainda que o AVC ocorra mais em homens, nas mulheres é mais grave.  O cigarro provoca danos às artérias, tornando-as mais rígidas, e se associado ao estrógeno (hormônio presente nas pílulas) há uma contribuição para o processo de formação do ateroma, placas que provocam a obstrução dos vasos sanguíneos.  Para isso, o neurologista vascular Alexandre Pieri alerta que, se a mulher já faz uso de anticoncepcionais, deve se preocupar com outros fatores de risco, pois o medicamento isolado não oferece riscos significativos ao AVC.
A prevenção do AVC é uma medida que evita sequelas e até a morte. As sequelas vão depender das áreas atingidas. Para recuperação, que depende de cada caso, é preciso acompanhamento de profissionais, tais como fisioterapeutas, fonoaudiólogos, terapeutas, etc.
Portanto, o AVC pode ser evitado tomando-se as precauções necessárias aos fatores de risco. Também, a associação de fatores de risco é extremamente perigosa, e por isso, que em mulheres o cuidado deve ser maior. Ou seja, se a mulher já faz uso de pílulas deve-se evitar associá-las aos fatores de risco, como descrito, o tabagismo.

Saber reconhecer os sinais do AVC é importante para obter-se atendimento hospitalar rapidamente, pois as sequelas podem trazer prejuízos, e também se evita evolução do caso para coma ou morte.



sexta-feira, 6 de junho de 2014

Nenhum medicamento é livre de efeitos colaterais

Não são poucas as pessoas que se tornam adeptas habituais de medicamentos ditos 'inofensivos', em busca de respostas rápidas para problemas corriqueiros de saúde.


E correm riscos, pois a automedicação, na maioria das vezes, é perigosa.

Embora alguns medicamentos apresentem, de fato, poucos riscos, e sua compra é facilitada por estarem 'do lado de fora' do balcão da farmácia, é preciso cautela.

"Tal conjunto de fatores acaba predispondo ao uso até mesmo abusivo de algumas drogas. Todavia, como nenhuma é de fato isenta de ameaças, eventualmente acontecem adversidades", salienta o cirurgião geral Lucas Zambon, diretor do Instituto Brasileiro para Segurança do Paciente. Ele explica que, como esse tipo de acontecimento fica "diluído" entre o grande número de pessoas que tomam tais medicamentos, há uma falsa sensação de segurança.

No Brasil, de acordo com a IMS Health, consultoria especializada em dados de saúde, o item mais comercializado em 2012 foi o descongestionante nasal Neosoro (cloridrato de nafazolina), que contém até página em redes sociais como o Facebook ("Clube dos viciados em Neosoro"). Embora não esteja associado a nenhuma enfermidade grave como o câncer, o descongestionante pode aumentar a carga sobre o coração. Por isso, deve ser utilizado com precaução em pacientes que usam determinados medicamentos ou que apresentam deficiências cardíacas – hipertensão, arritmias, disfunções no coração. Não é livre de riscos e não deve ser empregado por períodos prolongados sem orientação médica.

Os dez mais

Depois do Neosoro vem Puran T4 (hormônio tireioidiano levotiroxina sódica), Salonpas (analgésico e anti-inflamatório salicilato de metila), Ciclo 21 (anticoncepcional, genérico etinilestradiol levonorgestrel), Microvlar (anticoncepcional, etinilestradiol levonorgestrel), Buscopan Composto (analgésico e antiespasmódico, escopolamina), Rivotril (anticonvulsivante e ansiolítico, clonazepam), Dorflex (analgésico, cipirona ou orfenadrina), Glifage (antidiabético metformina).

Sallem ainda cita outros bastante usados como Neosaldina (combinação de mucato de isometepteno, dipirona e cafeína, utilizada no alívio das dores de cabeça), Cialis (disfunção erétil, tadalafila,) Dipirona sódica (analgésico e eficaz na febre) e Metoclopramida (náuseas e vômitos).


Dados 'internacionais'

Em relação ao consumo mundial, em uma lista de janeiro de 2012, Neosoro (descongestionante nasal) aparece encabeçando a lista como medicamento  mais vendido no planeta. Porém, atualmente, há quem diga que outro, desta vez empregado para redução dos níveis de colesterol, é o campeão: Lipitor, fabricado pela farmacêutica norte-americana Pfizer. Seu princípio ativo é a atorvastatina.
Importante: há diferença na lista de medicações mais consumidas sem receita médica, e as com prescrição médica, explica Sallem. "Em vários países do mundo, como nos Estados Unidos e no Canadá, há necessidade da receita para drogas tão comuns como a atorvastina, já que a legislação é mais severa".

Há também variações entre as nações pesquisadas. De acordo com o site The Richest, as mais comercializadas sem receita, as chamadas OTC, ou over-the-counter (medicações de balcão, em tradução livre) nos EUA são: xarope para gripe (princípio dextrometorfan), descongestionante nasal (hidrocloreto de pseudoefedrina), antialérgico (cetirizina), Nicorette (usado como substituto do cigarro para se parar com o vício), ibuprofeno relaxante muscular, dimenidrato (para vertigem e tontura), TruBiotics (suplemento probiótico restaurador da flora intestinal bacteriana), vitaminas (suplemento nutricional masculino), codeína (para dor) e comprimidos de cafeína (para pacientes com sonolência excessiva durante o dia).

Soluções a curto prazo

Sobre o ansiolítico Rivotril, Sallem sustenta que se trata realmente de uma das medicações mais consumidas no Brasil, mas não se encontra nas listas das mais usadas no mundo. "Sua fama se deve, entre outros fatores, à propaganda feita sobre o produto, ao conhecimento médico a respeito do mesmo e aos seus efeitos. É usado no tratamento da ansiedade e da insônia, situações comuns entre nosso povo. Seus principais concorrentes são o Lexotan (bromazepam), Frontal (alprazolam) e Olcadil (cloxazolam)".
Já a obesidade se tornou uma epidemia mundial e preocupa os órgãos de saúde pública, sendo considerada uma doença multifatorial. O aumento da oferta de alimentos processados, o estresse e o sedentarismo estão entre outros fatores causadores do problema.

"Em geral, as mulheres são consumidoras em potencial de medicamentos para emagrecer, nunca estão satisfeitas com o corpo e desejam sempre perder um ou dois quilos. No Brasil, sendo um país tropical onde existe uma exposição maior do corpo, estar em forma é uma questão de aceitação social", observa a farmacêutica bioquímica Fernanda Chalabi, com título de especialista em Manipulação Alopática pela Anfarmag (Associação Nacional das Farmácia de Manipulação) e farmacêutica Coordenadora Técnica de Marketing da Farmácia de Manipulação Officilab.

"O Brasil é um dos países onde o consumo de moderadores de apetite bate recordes", destaca Sallem. Ele lembra que existem três principais grupos de remédios para emagrecer: anorexígenos, sacietógenos e inibidores de absorção de gorduras.
Os anorexígenos inibem o apetite, e têm em sua composição substâncias conhecidas como anfetaminas (que podem ser perigosas). O segundo grupo age no estímulo da sensação de saciedade: o indivíduo sente fome, mas com uma porção menor de alimentos fica satisfeito.
Já o terceiro atua na inibição da absorção intestinal de cerca de 30% da gordura ingerida, entretanto só ajuda se a pessoa come pouco (se come muito, os 30% que deixam de ser absorvidos podem não ser suficientes para a perda de peso).
"Trata-se de mais uma consequência do estilo de vida atual e de uma sociedade que quer soluções milagrosas e de curto prazo", destaca o clínico geral Lucas Zambon, do Hospital das Clínicas de São Paulo (HCSP).
"Para controlar a ansiedade e perder peso, por exemplo, o ideal é você mudar seu estilo de vida, adequando sua alimentação e realizando atividade física periódica.
O problema é que a maioria ou não quer ou não consegue impor tais alterações em seu cotidiano, optando por uma alternativa que ofereça, supostamente, um resultado mais rápido. Aí, quando querem perder peso, correm para alguma medicação 'facilitadora'".
Em relação aos 'emagrecedores' de uma maneira geral, há risco de gerarem efeitos colaterais cardíacos, como arritmias, além de predisposição ao desenvolvimento de quadros depressivos ou de psicose, entre outros.
"O Xenical é bastante procurado para uso ainda, pois até pouco tempo podia ser comprado sem receita. Recentemente, porém, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) obrigou a necessidade de receita para compra. As vantagens do Xenical são mais do ponto de vista médico, dado o perfil de efeitos colaterais menos graves do que de outros medicamentos utilizados para emagrecer. Seus sinais se referem mais ao próprio trato digestivo, como diarreia, flatulência e dores abdominais", diz Zambon.

Dependência química

Quando há dependência química, o medicamento começa a fazer parte do metabolismo do indivíduo.
"Geralmente, são medicamentos  ou drogas ilícitas que conferem sensação de prazer e bem-estar agindo no Sistema Nervoso Central, mas com grandes danos ao organismo. A retirada de uma droga desse tipo promove sintomas característicos de abstinência e deve ser tratado como doença", enfatiza Fernanda Chalabi.
Para o neurologista Flávio Sallem, algumas medicações podem se relacionar com algum grau de dependência química, como os opiáceos e opioides (morfina, dolantina e meperidina).
Já outras, como antidepressivos, antipsicóticos e esteroides, trazem o perigo de sintomas muitas vezes graves com sua parada abrupta, o que não caracteriza dependência química.
"Não deve ser confundida a dependência com o fenômeno de tolerância, observado com os benzodiazepínicos (famosos 'tarjas preta'). Neste caso, com o passar do tempo e uso do fármaco, o paciente vai necessitando de doses cada vez maiores para conseguir o mesmo efeito que antes ocorria com porções menores da medicação. Isso ocorre por alterações químicas na membrana da célula", afirma Sallem.
Existem dois tipos principais de dependência química: a que se refere a drogas lícitas e a relacionada a drogas ilícitas.
"Apesar de ser um aspecto importante, a diferença não é apenas de cunho legal.
No caso das drogas lícitas, o efeito entorpecente existe em graus variados, mas tende a ser menor do que o das drogas ilícitas.
Como exemplo, dificilmente alguém comete um crime devido ao uso de ansiolíticos (medicações que podem causar dependência com uso prolongado)", salienta o psiquiatra e professor da Unifesp Moacyr Alexandro Rosa, diretor do Instituto de Pesquisas Avançadas em Neuroestimulação (Ipan).
Já o uso de cocaína e similares mais facilmente se incorpora a comportamentos inadequados ou criminosos. "Novamente chamo a atenção de que não é uma questão de legalidade.
O álcool (substância lícita) também se associa a atitudes perigosas", diz Rosa, acrescentando que a automedicação com substâncias que causam dependência é mais rara, pois a compra destas requer receita médica especial. Isso não impede, mas limita bastante o problema.

Problemas emocionais

O indivíduo liga a sensação de conforto ao seu uso e, por isso, deixá-lo provoca quadros de ansiedade, sensação de vazio, dificuldade de concentração e mal-estar. "É a dependência psicológica agindo, sem dúvida", diz a bioquímica Fernanda Chalabi. O nível educacional parece ter influência significativa, porém há outros gatilhos.
Importante: existe um quadro psiquiátrico clássico chamado de hipocondria, no qual as pessoas acreditam ter uma doença grave. "Nestes casos, pode haver automedicação ou não. Muitas vezes, procuram diversos médicos, pois nenhum consegue 'descobrir' sua doença", afirma Rosa.
Fernanda Chalabi completa dizendo que, num país carente como o nosso, com saúde pública deficiente e planos de saúde caros e sem padrão de atendimento, o estado psicológico é muito importante.
"É como se as condições do paciente melhorassem só porque ele está 'tomando alguma coisa'. É o chamado efeito placebo, ou seja, mesmo que o fármaco não seja indicado corretamente ou na dose certa, o simples fato de estar ingerindo já produz um efeito positivo".